10.2.06

De / Para (Poética Postal)

De:
BUENOS AIRES


Porteño fui desde que, en Caminito,
coincidí con Malena en un fandango
y Boca le dio teta al huerfanito
que arrastraba dos velas y un tamango.

Venus arrabalera, flor de fango,
Maipú esquina Corrientes, compadrito,
Colón de gala, pibes sin un mango,
Fangio, Discepolín, Borges, Dieguito.

Por don carnal contra doña cuaresma
líbrate del fantasma de la Esma,
del asma con Evitas trabucaires.

Canta con el Polaco y con Garcia
el tango añil de la melancolia,
que tengas buenos sueños, Buenos Aires.

(Joaquín Sabina, in Esta boca es mía - Ediciones B, 2005)

Para:
OLIVAIS


a caminho dos olivais, gruas lembram nos seus manejos o rumo dos hidroaviões, olhos ávidos de drama espreitam os jornais luminosos, o algar seco da piscina recolhe as folhas esquecidas do outono. na manhã da esplanada desenho a estrutura do insuflável, os rostos que me espreitam das mesas vizinhas, como arenques fumados, como pequenos budas, as luzes cintilando pelas landes fulvas do mito onde reina o secreto fluir das coisas. no regresso, enfrento a corrente infinda dos dias e das noites, a fragmentação contínua do instante, moscas saindo da boca dos gatos mortos e flocos de algodão imitando neve.

(António Ferreira, in Por Negras Veredas, na Luz dos Caminhos - Quasi, 2006)