3.6.05

O cha-cha-cha das cinco

Pepito não dizia muita coisa. Os amigos chamavam-lhe "o homem que não tinha nada para dizer". Pepito não se importava com a alcunha, até lhe achava piada. Apesar de nunca ter dito nada sobre isso...

Pepito não falava muito, porque tudo o que tinha para dizer, dizia com os pés... no salão de baile lá do bairro. Todos os dias, às cinco da tarde, Pepito entrava de sapato luzidio e camisa de folhos no salão esconso e cheio de velhas senhoras reformadas e velhos gingões fora de prazo... e dançava o cha-cha-cha como ninguém. Era ali que Pepito dizia tudo o que tinha para dizer. E no salão todos o respeitavam, todos ouviam os seus passos de mágica e se deixavam guiar pelos pés eloquentes de Pepito.

Quando estava feliz ou de bem com a vida, a dança de Pepito era elegante e sensual. Quando estava triste, zangado ou cansado, os passos de Pepito eram bruscos e bravos. Mas eram sempre luminosos para quem escutava a dança de Pepito.

Pepito não dizia muita coisa. Mas os seus pés contavam histórias de aventuras e relatos de sonho. E todos no salão gostavam de o ouvir falar e ansiavam pelo cha-cha-cha das cinco...