Festival de Porrada
Enquanto a RTP 1 transmitia o Festival da Canção, a TVI dedicava-se a um hipotético festival de porrada em Coruche. Hipotético porque, num dos vários inexplicáveis directos, o repórter, visivelmente mais excitado do que a situação exigia, descrevia um cenário que não se via. Não que o repórter não estivesse no sítio certo ou rodeado dos protagonistas - que estava, sim senhor, estava -, mas porque, simplesmente, nada daquilo que ele descrevia se estava a passar.
Por entre expressões como «vivem-se aqui momentos de terror», «sente-se essa falta de segurança aqui em Coruche» ou «como podemos ver, a situação está descontrolada, é inacreditável», aquilo que as imagens mostravam por trás do repórter - que suava, sim senhor, suava - eram várias dezenas de homens e mulheres de braços cruzados e, lá ao fundo, três ou quatro mulheres ciganas, uma delas de chinelo na mão, a esbracejar e a gritar «deixem a gente».
Antes de mais um injustificável directo, a câmara mostrou, durante vários minutos, as mesmas imagens de «terror» passivo e «falta de segurança» mas excesso de braços cruzados e sorrisos matreiros, enquanto em estúdio, um boneco do Contra-Informação que é também a pivot do Jornal Nacional, se entretia a fazer juízos de valor.
Curiosamente, só quando o holofote da câmara se acendeu e o repórter começou a falar - ao mesmo tempo que chegava a força policial que a situação pedia (três GNRs, três) - é que os ânimos se exaltaram e alguns populares se envolveram em confrontos verbais com duas ou três ciganas.
Mais esclarecedor foi ver um motoqueiro puxar violentamente os cabelos a uma moça (talvez a sua mulher ou namorada) que estava a discutir com uma cigana em frente à câmara e ir logo a seguir explicar ao repórter da TVI que tudo aquilo era por causa «do que fizeram à tasca»...
Enquanto a RTP 1 trasmitia o Festival da Canção, a TVI dedicava-se a este lamentável festival de raiva colectiva e mau jornalismo, que dominou o Jornal Nacional e, com certeza, as poucas conversas de família pela noite fora. E assim se faz informação em Portugal. Obrigado Zé Eduardo. Obrigado Manela.
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