A primeira vítima da blogosfera portuguesa
Foi a meio da tarde que lhe começou a doer o olho direito. A princípio não ligou - devia ser só cansaço... Só quando, dois dias depois, o olho lhe começou a arder, é que se apercebeu que o caso era mais sério. Até porque as labaredas que lhe saíam pelo olho turvavam-lhe a vista e impediam-no de acabar aquele post genial que andava há três dias a escrever. Lá teve de correr para a banheira para apagar o fogo da vista... Finalmente, o olho já não lhe ardia - mas continuava o ardor. Era agora tempo de reflectir. O que teria provocado aquele incêndio? O que estaria a causar aquele ardor? Foi envolto nessa nuvem de dúvidas que adormeceu...
No dia seguinte, acordou agarrado ao olho, a mão direita colada à pálpebra. Com a outra, a esquerda, só teve tempo de agarrar os pingos e despejar a solução por entre os dedos. Felizmente, três gotas acertaram no olho. Infelizmente, quando soltou a mão, o olho caiu-lhe pela cara abaixo. Desdedaçado, olhou com o olho que lhe restava para baixo da cama em busca do olho perdido. Ao colocar a mão direita, molhada, no chão, escorregou, bateu com o queixo no soalho e desmaiou. Ali ficou, estendido, desolado, desolhado...
Três horas depois, acordou. Ao levantar a cabeça, bateu com ela no estrado da cama e... desmaiou... Ali ficou, mais uma vez, mais umas horas...
Ao final do dia, sem olho nem amor próprio, levantou-se chorando do olho que lhe restava e dirigiu-se ao computador. Ao acordar do desmaio, chegara à conclusão que a culpa de toda esta infelicidade era do monitor, aquele terrível monitor para onde olhava, todos os dias, todas as noites, horas a fio, para blogar mais um pouco, para postar mais uma linha... há três anos que não havia hora em que não blogasse mais um pouco. Agora, tinha chegado o fim! Ia postar a sua última posta, vingativa, crispada, contra o monitor, o blogue e a vida.
Estendeu o dedo indicador da mão direita, carregou no botão e, num ápice, pelo olho que lhe restava, viu a vida a andar para trás. O choque eléctrico deixou o bairro às escuras e o seu corpo, queimado, estendido no chão, cabelos em pé, dedo indicador direito colado ao computador.
Três horas depois, os bombeiros encontraram-no naquela figura morta, desolhada. No monitor ligado, brilhava um enorme espaço em branco onde se lia apenas
«Eh eh eh... Eh eh eh!
Posted by: Olho Vivo».
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