Fogo posto no ventre de Maria
Veio de fora como
A hora desatada, já trilhada
Na palhinha deitada
A manjedoura empalhada
Três dedos de dilatação
Espreita a cabeça
Do filho da criação
Tão parecido com o pai
Que o pai desconfia
Sai-lhe de entrepernas, à mãe,
A placenta tão divina
Não há líquido amniótico
Que possa enganar ninguém,
Nasceu Jesus, e se Pessoa soubesse,
Chamava-lhe apenas,
com verdade a José,
E a Gabriel também,
O menino de sua mãe.
de Eustáquio Pinho, in Um Dia Não São Dias, Penacova, 1978
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