A pressão
- Está lá?
- É da TVI?
- É Miguel Pais do Amaral. Quem fala?
- Ah! Conde, é Rui Gomes da Silva, senhor doutor.
- Quem?
- Rui Gomes da Silva. O ministro.
- Desculpe mas não sei quem é.
- Aquele dos óculos, vesgo, que era advogado.
- Pois, sabe, eu não sei quem o senhor é e o melhor é falar aqui com a minha...
- O senhor doutor, aquele que andava sempre com o Santana, o que perdeu a distrital de Lisboa para o António Preto, o que...
- Diga lá, homem, vá... (Ó Moniz, quem é este?)
- É por causa do Marcelo Rebelo de Sousa, senhor professor doutor.
- Se é para mandar livros, fale com o Júlio Magalhães ou com o outro, que não me lembro do nome dele...
- Não, daqui é Rui Gomes da Silva, o ministro.
- Sim, já sei. (Ó Moniz, a gente deve algum dinheiro a este gajo?)
- É que o patrão, digo, o senhor primeiro-ministro não gosta dos comentários do professor Marcelo, porque ele diz muito mal de nós.
- Oiça, escreva lá uma carta ao professor, que ele costuma ler as cartas das associações e das escolas, e até pode ser que leia a sua.
- Não é isso. É que queriamos que ele fosse despedido.
- O quê? (Ó Moniz, não foi este que nos emprestou dinheiro, pois não? Foi o outro que era do boxe, o da barbicha...)
- Olhe, espere lá, ó senhor professor Conde, que eu vou chamar o meu pai...
- ...
- Estou?
- É Miguel Pais do Amaral.
- Olá. Fala Mogais Sagmento.
- Olá, como está, senhor ministro. Então? Tem crianças em casa, já vi.
- Ó Miguel, você não acha aquilo do Magcelo uma gande estopada?
- Olhe que só vejo as audiências e gosto. (Ó Moniz, deixe lá os papeis, foi este que nos emprestou o dinheiro, pá.)
- Podió calá-lo?
- Perdão?
- Podió calá-lo?
- A quem?
- Ao Magcelo. Dava-nos jeito.
- Mas porquê?
- É que se fosse um comentador isento, sei lá, o Delgado, o Guibeigo Fegueiga, o Gaça Mouga... Agoga, esse gajo está a tognag-se iggitante.
- E as audiências, senhor ministro? (Ó Moniz, acha que também devo deixar de dizer os "erres", para não o ofender? O quê? Deixe, deixe...)
- A gente aganja-lhe aqui umas licenças paga a TV Cabo. Mais uns canais, umas coisinhas. E até dizemos aos gajos da Cofina, aqueles do Cogueio da Manhã, paga falaguem de negócios consigo.
- (Ó Moniz, saia lá um bocadinho. Isso, feche a porta. Não, não, estão óptimos, deixe aí a graxa que eu arrumo depois.) Ó senhor ministro, e o que é que eu faço ao José Eduardo?
- Sei lá, isso é consigo.
- Não o querem lá para a RTP? É que dava-me jeito que fossem todos embora. E aquele da hora de almoço, o que parece que anda sempre drogado...
- Hum?
- Desculpe, não era drogado que queria dizer, o que parece cheio de sono, cansado...
- Ponha lá o Magcelo a andag, que depois falamos. Adeus, Miguel.
- Adeus, senhor ministgo, ministro, perdão.
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