Predadores I
Portugal é o segundo país do mundo que mais contribui para a redução das espécies marinhas, por causa do elevado consumo de bacalhau, revela o Relatório Planeta Vivo 2004 da organização ambiental World Wide Fund (WWF), ontem divulgado. Baseando-se em dados de 2002, o estudo da organização ambiental World Wide Fund (WWF) - que mede o impacto do homem sobre o planeta - indica que, em média, cada português consome anualmente recursos marinhos de 1,25 hectares, quando a média do mundo é de 0,13 hectares. Só a Noruega (com 1,28 hectares) ultrapassa Portugal no ranking mundial da destruição do meio marinho, o que a WWF explica com o elevado consumo de bacalhau nestes dois países.
«É um problema de tradição alimentar. Tanto em Portugal como na Noruega o consumo de bacalhau é muito elevado, o que tem graves consequências no meio marinho uma vez que o bacalhau está no topo da cadeia alimentar», explicou à agência Lusa o porta-voz em Portugal da WWF, Eduardo Gonçalves. Se as plantas como o fito plâncton fazem parte do primeiro nível da cadeia alimentar, e o zooplâncton e outros animais que se alimentam deles fazem parte do segundo nível, as espécies como o bacalhau e o atum encontram-se no quarto nível, o topo da cadeia alimentar.
A WWF estima que a quantidade destes peixes de alto nível tenha diminuído em cerca de dois terços no Atlântico Norte entre 1950 e 2000, em grande parte por causa da pesca. À medida que diminuíram os predadores principais (como o bacalhau), as espécies do terceiro nível tornaram-se mais abundantes, mas também começaram a ser cada vez mais um alvo dos pescadores. «Os bacalhaus mais pequenos começaram também a ser pescados e, como estes bacalhaus ainda jovens se alimentam de peixes mais pequenos, isto agravou efeito da redução da cadeia alimentar através da pesca», explicou Eduardo Gonçalves.
Além da redução das espécies marinhas, aquele responsável da WWF alertou para a diminuição mundial das populações de espécies terrestres, que foi de cerca de 30 por cento entre 1970 e 2000. «Portugal tem uma situação muito grave também nas espécies terrestres. Já desapareceu a águia imperial ibérica e, agora, está em vias de acontecer o mesmo com o lince ibério», comentou Eduardo Gonçalves. Este responsável salientou que o eventual desaparecimento do lince significa a primeira extinção de uma espécie felina há mais de dez mil anos. »Talvez se isso acontecer o governo português comece a ponderar o impacto habitats da construção de barragens ou auto-estradas para as espécies e habitats», afirmou.
Eduardo Gonçalves criticou ainda o nível de emissões de dióxido de carbono em Portugal: «Ao mesmo tempo que a União Europeia se esforça para reduzir as emissões, Portugal teve um aumento superior a 40 por cento nos últimos 14 anos». A WWF considera também preocupante a «pegada ecológica» - a relação entre o consumo de recursos naturais pela homem e a capacidade produtiva da natureza - de Portugal, que é de 5,2 hectares/habitante por ano, a 18ª mais elevada das 60 nações estudadas pela organização. «Os incêndios florestais são cada vez mais graves. Os picos de frio e de calor cada vez mais intensos. Gradualmente, as alterações climáticas manifestam-se de forma mais evidente. Há que fazer alguma coisa», conclui o porta-voz da WWF em Portugal
Fonte: Agência Lusa
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