23.9.04

Fado desamor



Empedernido
Sabes o sentido
Do que queres dizer
Estás combalido
E um pouco roído
Por essa mulher
De antanho
Recordas
A faca, o gume,
A fatalidade
Que ser escravo
Desta Lisboa
A quem chamas cidade

Num malmequer
Rosa encarnada
E até na ciranda
Anda de banda
Em tom menor
A voz de criança
Alumia às vezes
Estas paredes
Tua candeia
Mas essa mulher
De nome Lisboa
Não te sai da ideia

Tentas esquecer
Num trago de vinho
Afogas maldade
Trincas os dedos
Por entre os dentes
Suspiras saudade
Se é de vingança
A tua lembrança
Do que queres fazer
Lança-lhe um beijo
Segreda-lhe o Tejo
Ao anoitecer

de Eustáquio Pinho, Beco da Mó, Lisboa, 1978