9.9.04

Era uma vez um turista português

No final da semana passada, este humilde servo foi de malas feitas passar uns dias de merecido (modéstia à parte) descanso ao mais óbvio dos pontos de veraneio nacionais: o Algarve. Mal sabia este escriba e seus três companheiros que os dias que se seguiriam roçariam a comédia negra. Vamos por pontos:

Ponto 1 - à chegada:
- O apartamento no Alvôr devido devia ter sido anteriormente habitado por energúmenos da Idade da Pedra, tal o esterco, a nojeira, a falta de limpeza do local. Não fora o dono da casa ser familiar deste vosso amigo turista, o turismo teria logo ali acabado. Sendo assim: rápida limpeza, lavagem e dormida.

Ponto 2 - o dia seguinte:
- Cheirinho de praia ao longe. Almoço na típica sardinha já não tão típica. Supermercado para comprar produtos de limpeza. O Acidente: o elevador da janela do condutor avaria. Parte-se. Fode-se. Fode-me o dia. Passo seguinte: onde raio haverá uma garagem aberta no Algarve a um sábado à tarde? Não há. Hipótese: Bombeiros. Há sempre alguém nos bombeiros. Havia. Alguém que, pacientemente, lá conseguiu abrir, desconstruir, destruir a porta do carro e puxar o vidro para cima. Na rua, ninguém diria que havia um pedaço de madeira dentro do carro. Dentro da porta do carro. Deus queira que não se parta. Raios o partam se se partir. Três horas depois, de volta ao supermercado. Esfregona, vassoura, detergentes, panos, comida. Casa: limpeza aprofundada, lavagem à séria. Hmm, que belas férias, alguém desabafa. Ao fim do dia, alívio: à hora do jantar, começam as férias. Não fosse a merda do pau na porta do carro...

Ponto 3 - um domingo de férias:
- Praia. Almoço. E a merda do pau na porta do carro - cuidado com as lombas, não andes depressa demais, olha o vidro... Casa. Descanso. Jantar. Cuidado com o vidro. Amanhã vamos à oficina.

Ponto 4 - começa a semana:
- 8 da manhã. Primeiro telefonema para a oficina: ai, já ligamos de volta. 11 da manhã. Segundo telefonema para a oficina: ai, não, não nos esquecemos, já ligamos de volta. 13 da tarde. Oficina: ai, deixe cá o carro, que já lhe ligamos. Caminhada até à sombra mais próxima: o centro comercial, a 2 quilómetros. 17 da tarde. Terceiro telefonema para a oficina: ai, hoje não podemos fazer nada. Regresso à oficina. Ai, traga o carro amanhã às 9, que fica logo pronto. Pois... A merda do pau é que não sai de dentro do carro. De dentro da porta do carro. Pois... Cuidado com a lombas, olha o vidro... Casa. Descanso. Piscina. Banho. Jantar. Cinema. Regresso a casa: hmm, não cheira a gás? Cheira. É gás. Há uma fuga, há uma fuga de gás no corredor do prédio. Uma porra de uma fuga de gás no prédio! UMA PUTA DE UMA FUGA DE GÁS, PÔÔÔRRA! É meia-noite, o piquete do gás não atende. Venham os bombeiros. Vêm os bombeiros. Não acendam luzes. Não liguem telemóveis. Um dos voluntários reconhece-nos. Então, que belas férias, hã? Que belas férias... Pois... Veda-se o gás. Vão-se os bombeiros. Fecha-se a porta. Abrem-se as janelas. Cuidado com os mosquitos...

Ponto 5 - o fim do pesadelo:
- 9 da manhã. Oficina. Ai, às 11 está pronto. Café. Tempo. Tempo. Tempo. Às 11 está pronto. E pago. Ao caminho. Destino? Espanha. Com paragem em Castro Marim. Praia (dizem que é verde, não dou por nada). Restaurante. Sentamo-nos. Na porta: não aceitamos Visa nem Multibanco. Não temos dinheiro. Não costumamos levar cheques para a praia. A caixa Multibanco mais perto fica a 8 quilómetros. Levantamo-nos. Almocemos em Espanha. Almoçamos em Espanha, Ayamonte. Cantaria Graciano: há festa na aldeia, está tudo tão bom, há tapas na mesa, sangria e pôm. Depois do almoço, o passeio. Somos perseguidos por uma manada de sevilhanas em fúria. É um sinal: está na hora do regresso. Casa. Descanso. Jantar. Cinema. Casa... Não há fugas de gás... O pau já não está dentro do carro... Isto amanhã é capaz de correr melhor...

Ponto 6 - feriado:
- Praia. Almoço. Casa. Descanso. Jantar em Lagos. Na parede do restaurante: não aceitamos Visa nem Multibanco. Desta vez vimos prevenidos. Um copo. Portugal marca um golo. E mais um. E outro. E ainda outro. Regresso a casa. Hoje correu melhor.

Ponto 7 - o regresso:
- Hoje. Uma praia rápida. Banho. Limpar. Arrumar. Fazer malas. Um almoço rápido. E upa, que se faz tarde. Alguém manda um SMS: os The Galarzas num Top 5 de uma revista? Olha a pôrra! Que belas férias...

Ponto Suplementar: e já agora, será que alguém poderia dizer aos senhores das juntas e das câmaras e das direcções gerais lá do Algarve que há umas coisinhas que se usam no resto do país (em algumas partes, pelo menos) assim tipo placas ou placares, com coisas escritas e umas setas e uns números, que servem para indicar direcções, locais, terras, caminhos...? OU SERÁ QUE A MALTA TEM DE ADIVINHAR PARA QUE LADO É QUE FICA A PÔRRA DA AUTO-ESTRADA E A PUTA DA SAÍDA E A MERDA DA VILA? Se é para obrigar a malta a andar perdida pelo Algarve, vão no bom caminho... Raio de falta de respeito pelas pessoas, pá!