29.7.04

Poema de Mestre Nestor Alvito

Arde-me

Tudo arde
Tudo ardeu

Ardeu-me a casa
Ardeu-me o carro
e a minha gente

Ardeu-me a terra
Ardeu-me a aldeia
e o meu país

Ardeu-me a alma
Ardeu-me o coração
e a vida

Tudo arde
Tudo o fogo consome

Ardem-me chamas nos olhos
da dor da minha gente
Ardem-me labaredas no peito
do choro dos meus vizinhos
que choram lágrimas fora de tempo
que mal chegam para apagar as chamas
que ardem cá dentro

Tudo arde
Tudo se perde
Nada se transforma

(in Édito, 2003)