23.7.04

O primeiro adeus



Já se afogava em desculpas aquela mulher que, em 1993, chegou ao pé de mim e, ao lado da sala cheia, quinhentas pessoas lá dentro, me disse: "O Carlos não pode vir. Ficou muito nervoso e não se consegue quase levantar. Ele ainda se zangou connosco, mas não o deixámos vir".
À época, a minha preocupação era saber que desculpa arranjar para a multidão que enchia, preenchia, todo o salão. Pedi a esta mulher que subisse a palco e explicasse a todos o que se passara. Ela foi. Disse a todos que Carlos Paredes não vinha (um murmurio em coro, nada mais, ninguém arredou pé), porque estava doente, mas que mandava um pedido de desculpas.
Que me lembre, ninguém protestou. Foi o primeiro concerto cancelado do homem de mil dedos. Os que ali estiveram, naquela noite, nos Olivais, na velha Sociedade Filarmónica União e Capricho Olivalense, lembram-se.

Hoje, o Carlos foi.
Com um encordamento novo, a guitarra de sempre, o ar de homem-menino.