O Mistério do Ministério
Tudo lhe corria bem - o Presidente tinha medo dele, o Governo funcionava em velocidade de cruzeiro, o povo não gostava dele mas também não votava... enfim, tudo estava bem. Mas ainda assim, o Ministro estava macambúzio. Talvez lhe faltasse a voz. Talvez lhe faltasse o amor da nação. Talvez lhe faltasse a gravata da sorte. Talvez lhe faltasse o amor lá em casa. Talvez... Ou talvez lhe faltasse apenas acreditar em si próprio. Apenas aquele carisma que tem quem acredita em si, quem confia em si, quem gosta de si próprio. Seria isso? Seria essa a razão dos seus olhos cansados e velhos? Seria essa a causa dos seus cabelos brancos e das suas mãos trementes? Seria essa a sua falta perante Deus e os Homens?
Tanto tempo perdeu o Ministro a pensar nisso. Tanto tempo investiu o Ministro nessa causa. Que quando acordou, já o país era outro. O Presidente tinho sido deposto pelos militares descontentes com a falta de uma guerra. O Governo tinha sido expulso e enviado em galés para as novas colónias entretanto descobertas num cantinho esquecido do mundo. O povo tinha sido lavado, enfeitado e desligado com fintas e fitas de caubóis. E o país rodava à deriva, perdido, distraído, ingénuo... cativado pelas trovas de um flautista galanteador e de um manipulador sem escrúpulos, dupla de canastrões circenses que já havia tratado da saúde a outros 16 países antes de chegar à nação do Ministro.
Acabado o serviço nesta última paragem, o incansável duo fez as malas, guardou a poção da sua arte (um potente veneno macambuziador), e seguiu viagem, deixando para trás um megafone debitando a todas as horas a mais leve e sedutora canção do bandido. O Ministro - agora homem novo, alegre e consciente - olhou em volta e sentiu-se bem.
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