10.7.04

Nos tempos em que fizemos as malas

(c) edward hopper

No dia em que a mala ficou pronta entregaram um folheto de publicidade com descontos nos fatos de banho e num leitor de DVD com marca ilegível, composta por sete vogais e três consoantes, o teu pai colecionou os selos do Record e acabou por adquirir uma magnífica enciclopédia onde a jugoslávia ainda vinha inteira, a minha irmã tinha casado não faz um mês e o gajo que casou com ela veio ao pé de nós, sorriu e disse
a isabel está grávida
e sorriu outra vez e abriu uma garrafa, mas eu continuava a ouvir
a isabel está grávida
e a pensar nele, ele estaria o quê?, doente?, imortal?, cansado?
a isabel está grávida
e quando saimos de casa, com o miúdo ao colo, o cão a saltar, uma vizinha a oferecer ajuda, ainda viamos na televisão ligada um homem de cabelo branco a dizer que era o garante da democracia e que os tinha debaixo de olho e
a isabel está grávida
e ele ali com aquele sorriso de quem a emprenhou mas agora o problema é dela, e o homem de cabelo branco a dizer que não perdoaria falhas, e eu, na minha cabeça, de repente ouvi o ruben, ou como se chama o marido da minha irmã a dizer
o homem de cabelo branco engravidou-nos,
o que explicaria muita coisa