27.6.04

Sampaito, qual Eanito?



«Ouvindo e lendo a Comunicação Social parece que está tudo resolvido, que há um novo presidente da comissão, um novo primeiro-ministro e até ministros. É caso para perguntar se alguém se lembrou que o regime constitucional português consagra a figura do Presidente da República»

- Jorge Sampaio, sábado, 26 de Junho de 2004

Resposta:
Não. E ninguém se lembra porque:

1. V. Ex.a disse ao jornal Público, antes das últimas legislativas, que não queria mais eleições antecipadas e faria tudo para impedir que isso acontecesse.

2. V. Ex.a tem deixado que os eleitores que votaram em si, os que realmente o elegeram, desiludidos. Fizeram a cruz para ter em Belém um homem que não deixasse passar politicamente a Lei Laboral do dr. Bagão, os embustes dos Orçamentos de Estado, o roubo de 30 por cento dos ordenados dos trabalhadores por conta d'outrém pelo Estado e, ao mesmo tempo, o mesmo Estado dizer que não garante que esse dinheiro sirva para assistir o cidadão (PPR/E e Médis à fartazana, dr. Sampaio).

3. Porque V. Ex.a escolheu desaparecer da vida política, ficando cada vez mais difícil perceber se os 29 por cento de 1991 seriam, de facto, o seu real valor. Não faz um discurso ao País que seja compreendido por todos - do Corvo a Caminha, de Vilarinho de Agrouchão a Melides. Embrulha-se nessa parvoice dos "recados" e das "mensagens políticas" e raramente - ou nunca - fala claro. Isto é, e dando o benefício da dúvida a V. Ex.a, quase nunca diz aquilo que a gente pensa que o senhor realmente pensa.

4. Um Presidente da República não pode mandar recados pelos jornais. Ou bem que naquela sexta-feira arrendava um estúdio na RTP e falava ao País, explicava às pessoas o que se passava, fazia o seu papel, ou então deve é calar esses queixumes. Não mate o mensageiro, muito menos quando este não tem grande mensagem para transmitir.

5. Despeça imediatamente o "rolha" que passou aos jornais a informação que V. Ex.a não gostava de ver o Santana Lopes como primeiro-ministro. Ou então, peça meças ao Durão Barroso. Ou ainda, desminta isto. Porque se a conversa foi privada, quem deita cá para fora informação quebra Segredo de Estado.

6. Para acabar, queira o senhor Presidente da República saber que nunca como agora estamos prestes a bater tão no fundo. A geração que é a da liberdade, esta que nasceu nos idos de 70 mas que se habituou à democracia e ao pensamento livre, sente que o barco há muito adornou. Ora, citando-o, «é caso para perguntar se alguém se lembrou que o regime constitucional português consagra a figura do Presidente da República». Aqui lembramo-nos. E a conclusão é simples: quase com dois terços do mandato cumprido, é V. Ex.a um dos responsáveis pela rebaldaria, o pântano, o encerramento das portas que, dizia V. Ex.a, Abril abriu.

Em conclusão: Se decidir ser coerente com o que disse aos portugueses quando foi eleito, se ainda considera ter condições para ser Presidente da República, se parar de fazer esse "vou-mas-não-vou" tão tíbio, pode ser que o povo se passe a lembrar que o senhor é o garante de muita coisa válida. Caso contrário, a sua vida política terá sido uma pobre e triste caminhada do MES para o eterno "mas".