1.6.04

«Portem-se bem!»

Em vésperas de eleições europeias. Em dias de tormento internacional. Em horas de pôr à prova a justiça e os criminosos do país. Em tempo de crise financeira, de despedimentos em massa, de Ministros a negociarem nas costas do povo, de Ministras a lembrarem-se que se esqueceram de pagar os impostos. Em boa hora, o Governo decidiu pôr as mãos à obra e os pés ao caminho.

Eis que, chegado a casa, este Galarza encontrou, por entre o molho de cartas e contas para pagar, uma carta do senhor Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro. Envelope creme. Letras douradas. Institucional e, no entanto, provocante.

Será para nos pedir para ir votar? Será para nos dizer que a crise continua e que, por favor, temos que continuar a fazer um esforço? Será para nos lembrar que vêm aí tempos difíceis com a entrada de mais 10 países para a UE e a perda de euro-dinheiros? Será para nos pedir desculpa e paciência pelas intermináveis mas necessárias obras nas cidades, nas vilas, nas aldeias, nas estradas, nos montes, nos vales, no país? Será para nos sossegar, que o país está seguro contra possíveis ataques terroristas? Será para nos pedir compreensão, porque os nossos soldados têm que ficar mais uns tempos no Iraque? Será para nos lembrar que vem aí o calor e temos que cuidar das nossas matas e ter cuidado com os fogos e os incêndios? Será?

Mas não. Não. Não... A bonita cartinha do Ministro Adjundo do Primeiro-Ministro - simpático, digo; caríssima, penso! - é para nos dizer:

«Caros Portugueses

Estamos a poucos dias do início da Fase Final do Campeonato Europeu de Futebol, Euro 2004, que constitui o terceiro maior evento desportivo a nível mundial.

Trata-se de uma oportunidade única para a projecção internacional do nosso País, da nossa riqueza humana e patrimonial e da nossa ambição.
»

E, após enunciar este grande destino lusitano, segue por aí fora, enumerando os milhares de jornalistas que aí vêm e os milhões de turistas que se seguem, avisando que isto vai causar perturbações na nossa vida quotidiana.

Por fim, o senhor Ministro Adjunto lembra que:

«Importa aproveitar ao máximo este evento e demonstrar, a quem nos visita, a nossa intrínseca e cordial hospitalidade.

Estou certo que, todos juntos, faremos deste momento um grande sucesso, desde logo pelo empenho dos portugueses em agarrar de uma forma determinada esta grande oportunidade.

Estamos todos convocados - Portugal está pronto e conta consigo!

José Luís Arnaut
Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro
»

Ou seja, resumindo e concluindo em letras que todos percebam: PORTEM-SE BEM!

Oh, grande e consciente Governo da Nação! Mil e um eternos e humildes obrigados, pois que, antes de Vós, estávamos à beira do Abismo. ConVosco, damos um passo em frente...