31.5.04

A Linha é disforme

«Chiça penico!» gritou Salesiano. Chico Zé de seu nome, Salesiano de alcunha. Era assim que todos os seus conterrâneos o conheciam desde que tinha frequentado a tasca da Maria Alcobina, na Falésia, onde, pela primeira vez, terá gritado «Chiça penico!».

«Chiça penico!» gritou Salesiano. E todos os que o ouviram, baixaram a cabeça em sinal de desafogo. Parecia que tinham visto um chouriço a voar à noite. Mas nada disso, nada disso, gritava Salesiano, homem duro, de expressão cansada, vivida, experiente. Apesar dos seus enormes dedos anelares, Salesiano era um homem querido. Apesar dos dedos e de passar os dias e as noites a gritar «Chiça penico!».

«Chiça penico!» gritou Salesiano, mais uma vez. Fosse essa a sua cruz e todos a suportariam por ele. E toda a aldeia gritaria em coro jubiloso, aos céus divinos, «Chiça penico!».