Identidade
Judeu de muita honra
Sou lusitano de gema
Branco celta do vinho ribeiro
Visigodo de alma loira
Meu avô romano atirou-se
Ao ventre da moura
E lá foi meu pai
A Santa Cruz
Enamorar-se de minha mãe
Levada a camadas nos porões
Nas naus.
Sou filho terrestre da confusão
Herdeiro da confluência
Sou puro de mistura
Tenho nos genes
Os deuses do Olimpo sentados
À última ceia, no meio do
Mar aberto aberto em dois,
Numa cidade costeira de Shiva
Ou onde Buda ousou impor-se.
Sou imbecil da procura
Fraterno mártir do mercado
Levaram-me os valores
Entregaram-me o numerário,
A concordata e a gravata
Se der sangue,
Fogem-me os cinco continentes
Para a seringa.
Sou português, mistura de todos,
E estou pronto a baralhar
Outra vez.
de Eustáquio Pinho, Prisão de Vento, Junça, 1977
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