13.2.04

World Press Poor Photo

Esta é a foto vencedora do World Press Photo deste ano.

Jean-Marc Bouju (France), The Associated Press: Iraqi man comforts his son at a regroupment center for POWs, Najaf, Iraq, 31 March

Mas porque raio é que só as desgraças e os pobres e as guerras têm direito a prémio. Elas existem, estão lá, e os fotógrafos captam as imagens que, sim, são chocantes para o mundo ocidental ou ocidentalizado, que vê nestes reflexos o horror de um mundo. Mas um mundo distante.

O que é irritante. Lembro-me das exposições no CCB com as elites culturais, os jovens estudantes e a maralha mais ou menos pensante ali a olhar para os pobrezinhos e a dizer: «Que forma de arte», ou «Brilhante, captura a alma da pobreza».

Há quase que uma catarse misturada com uma desculpabilização, se permitem, neste tipo de fotografias. Já que não podemos salvá-los, ficamos solidários com os pobrezinhos, os deitados fora. Lobo Antunes tem uma passagem num livro, julgo que o do Gardel, onde exemplifica que a família tinha dado um trambolhão no status social porque tinham deixado de ter, lá em casa, um pobre. Eu lembro-me das famílias terem um pobre. Lembro-me de como a esmola era dada a um senhor conhecido que todos os sábados fazia a ronda, e como a minha avó lhe entregava pão, sopa e carne.

Mas estas fotos são belas mas de uma crueza, que continuo sem perceber se o World Press Photo passou a ser uma extensão da Amnistia Internacional ou se jurados e fotógrafos se tornaram numa espécie de voyeuristas das desgraças, que sabem que os intelectuais de esquerda e direita, com erros de paralaxe, vão olhar para a foto de lógicas diferentes mas, no fundo, com o mesmo sentimento hedonista: ainda bem que isto é lá, não é cá.