Revista de Imprensa
Gosto de ler jornais pela manhã. Claro que cada vez há menos para ler, o que me leva a olhar de outra forma para os textos mais pequenos, as curtas croniquetas regulares que dizem por escrito aquilo que eu penso. Hoje, mais uma vez, um jornal cá da terra me levou, por três vezes, a dizer «é isso mesmo, pá!» ou «tu 'tás lá, pá!» ou «ó pá, este gajo tem olho, pá!».
Refiro-me a dois espaços do DN: a coluna diária «Notícias da TV» (onde um jornalista da casa comenta os principais telejornais da noite anterior) e a coluna semanal «Kalkitos» (integrada na página de opinião das terças-feiras, a «Geração de 70», onde três infames colunistas dissertam sobre a vida, o amor e, às vezes, as vacas).
Sugiro uma deitadela regular de olhos a estes espaços, curtos, breves e, por isso, extremamente eloquentes.
Como é o caso das 17 linhas onde se avisa que «quem tem dívidas ao fisco pode ser penhorado (...) e quem não tem dívidas também» (culpa da desinformatização do Estado)... ou das outras tantas onde um senhor doutor de bata branca comenta que alguns adeptos sportinguistas foram hospitalizados depois de terem sido «esfaqueados, mas muito bem esfaqueados, passe a palavra» e que um deles terá mesmo estado «mais para o lado de lá do que para o lado de cá» (já não se percebia o que os médicos escrevem, agora também ninguém percebe o que eles dizem)...
Umas linhas mais à frente, o nosso já citado JMT volta à carga. Diz ele, num primeiro «kalkito», a propósito do Benfica-Sporting: «no futebol, como no país, confunde-se a inteligência com a esperteza mais reles». Mais abaixo, repete a gracinha, noutro «kalkito», agora sobre o escândalo Pio e as já habituais violações do segredo de justiça (repararam que escrevi o S e J em letras pequenas?) que «parecem querer transformar em pedófilos todas as pessoas que aparecem na televisão»: «nunca Portugal foi tão transparente. Antes, cheirava um bocado mal. Agora, pelo menos, a lixeira está a céu aberto».
Gosto mesmo de ler jornais pela manhã.
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