Rai's parta' o passarinho!
Às quatro da madrugada ouvi um passarinho cantar. Coisa estranha, nas ruas de Lisboa antiga, em noite nublada e carregada de chuva, que, a rodos, me impedia o sono. Às quatro da madrugada, ouvi um passarinho cantar cantigas de escárnio e maldizer, coitadito do povo que lhe atormenta as glândulas nasais com a força de mil tormentas. Avé Cícero, louco e bajulado, nas coimas da multidão, que só se separam de vez à noitinha, quando o relógio bate as quatro da madrugada. O cantar do passarinho (devia ser, pois com certeza, cor de laranja) sabia a jactos de mel e a laivos de demagogia barata. Era afinal o cantar rouco de um político demente, para quem a culpa do seu mal cantar era, pois com certeza, do passarinho anterior.
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