1.1.04

Poema de Nuno Alhazred Middenheim

Cine Paraíso

sempre foste uma puta
prostituto de letras públicas
odeio-te pelo teu séquito e pelo teu reino

constróis a tua vida como um filme,
cheio de actores que se curvam à tua visão
e que te rodeiam e te apaparicam o ego

sem palavras, sem sons, a preto e branco:
uma cópia já gasta de outras vidas

fartei-me e limpei a sombra do meu melhor amigo,
tornei-me no que não quero ser

  volto-me para o espelho
     com o garfo na boca
        como a podridão
             e engulo

Nuno Alhazred Middenheim, in «Unaussprechlichen Kulten», Editora Anda Cá Que Já Te Conto, Celorico da Beira, 1912