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O NÚMERO 43
Adejam pelo Tejo
Vão de voo brando
Na ponte dos poetas
Com as asas rasgam
Costuras no rio
No andar do número 43
Um inverno rigoroso
Deixa Ana sem sonhos
A esmo, o mundo
Praticada a espionagem
Encetada a caça
Vislumbrada a sentada decência
Pedro conserva ainda
Os apócrifos
No número 43
Anos depois
A menina prepara-se para
Uma discoteca
Enfrenta Jean Jancques Russeau
Enfrenta Rimbaud
Enfrenta Godot
Na porta de casa dois corvos
E um corpo inacabado de mulher
Um corpo dilacerado pelas agulhas
O desespero,
Uma picada e o feto pútrido sai
Na porta do número 43
O mundo, a esmo
São Pedro, lá em cima,
Rejeitará o pecado
E o feto,
Amaldiçoado
No limbo
Condenado
(Anita chegou ontem. Já sabe das piadas. Já cruza as pernas e compra tabaco. Amanhã um ser diligente amá-la-à como nas trincheiras os soldados amam suas armas: salvam-lhes a vida, antes de voltar para casa. Anita servirá soldados, velhos soldados veteranos, servirá para todos os abandonos, os desmames, as iniciações e as finalizações cardíacas)
Dentro de anos,
Quando no 43 outra menina chegar,
Quando ela já não prestar,
Anita irá passar o Natal à terra,
Sete palmos abaixo abaixo dela.
No mundo, a esmo
de Eustáquio Pinho, «Varela Silva Faz Falta», Ponferrada, 1999
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