16.10.03

Eu odeio isto IV

Temos olhos mortos, como bonecas. Abanem-nos e eles rolam, poisem-nos e eles fecham-se, mas não registam nada. Como lâmpadas apagadas, queimadas pela electricidade cultural da cidade.

Se tivermos um desejo comum, é o de adormecer novamente. Voltar aos tanques criogénicos, em posição fetal num inverno acolhedor e esperar pelo gelo que arrancaremos à unhada. Porque esta informação onde nadamos cega a vista e parece nada mais nada menos que o velho século XX a sonhar com um amanhã de crómio e neon.

Se pudéssemos voltar a dormir, talvez voltássemos a sonhar com o futuro certo.