4.10.03

Belo gavião

Estar de viagens para lá do Marão e mirar a vinha que agora se entrega à hora boa para o vinho é um prazer único. Digo isto porque, quanto mais longe estamos de Lisboa ou do Porto, mais ridículo vai parecendo o que se por lá passa.

Ora que parece que um ministro meteu cunha a outro para que a filha entrasse no ensino público. E só um se demitiu. Tudo isto parece estapafúrdio. E é. Imbecil. E é. Mas quem ouve as notícias em onda média através da Antena1, no meio da vinha, começa a achar que os radialistas estão novamente virados para as rádio-novelas. Que aquilo não é real, entendem. Que a parvoice é tão grande que a filha do ministro não passou de «a menina da rádio», ali pendurado o aparelho de marca «palito», enquanto se tesourava o cacho e se provava uma ou outra uva.

Quando entre uma bola de bacalhau em Lamego ou uma tripa mista em Aveiro (quem não sabe o que é, que descubra, porque o segredo é a alma do paladar), quando entre um moscatine em Alijó ou uma cabidela na Abrigada se vem a descobrir que a radionovela era verdade, prometo-me a mim mesmo que um destes dias vou a São Bento serrar os cornos aos bois que lá andam e ainda levo um daqueles camiões com tomates para ver se o Durão encontra os dele.

Roubando a citação de Pinheiro de Azevedo: «Vão todos bardamerda!». Com superior educação e diplomacia, claro está.