22.7.03

(não tem graça, mas às vezes apetece)

A verdade é que enquanto brincamos aos blogues:

80 por cento das mulheres do primeiro mundo estão preocupadas em perder peso, aumentar de peso, ganhar cabelo, pintar as unhas, olhar para o espelho, desligar a televisão, ligá-la, zappar, gritar, meter divórcio, tirar divórcio, casar com o amante ou deixar o amante casado

e

Três mil milhões de pessoas vivem na maior pobreza, e a verdade é que é para o bueiro onde vivem que o sr. dr. e o sr. engº. e a drª. e eu e tu deitamos tudo, sem mexer grande palha.

Bloga, filho, bloga, esses gajos que morram à fome enquanto a Europa enterra porcos de neutrões e vacas maradas e coelhos filosóficos e nitrofrangos assados e ovelhas dolly e os americanos, entretanto, deitam o resto para o chão.

Bloga, que já te apanharam no desemprego mas ainda recebes o subsídio. Quando te tocar a fome, e a falta de que viver, e quando não há papás a dar dinheiro e quando as empresas privadas tiverem na mão até o ar que respiras, agarras-te à Teresa Guilherme, ao Herman José, ao Zé Hermano Saraiva, à gaja que faz de puta na novela da tarde ou à outra que faz de puta na novela da noite. Que interessam esses três mil milhões? Essa merda não é na China, ou na Etiópia (ainda te lembras da Etiópia e quanto etíopes cabiam no elevador?), ou lá no Afeganistão?

Onde é que fica o Afeganistão?

O que é que aconteceu no Afeganistão que não me lembra nada? Foi o Campeonato do Mundo? Os Olímpicos? Andaram à trolha com alguém?

E ainda te lembras do nome do barbas que mandava nos taliban? Agora já não? Que gaita. Isto gira tão depressa.

Não é?

O que é que fizeste hoje?

Mandaste um tijolinho pra Timor?
Mandaste dinheiro à Cruz Vermelha - toma lá cem euros que depois deduzo no IRS, volta-me ao bolso.

O Lobo Antunes tinha razão. O António, claro. O outro queria operar o meu pai a uma hérnia que não tinha.
O António dizia bem: «Somos Felizes». O cão é que nos deve ter puxado.

Às vezes, penso que devia ter sido o cão do Manuel Alegre a escrever «Homem, como nós».

(desculpem lá, passei-me).