7.2.06

Postais de Buenos Aires II

A Av. 9 de Julio, em Buenos Aires, tem 16 vias: oito para cada lado. Andando normalmente, será humanamente impossível atravessar a avenida de uma só vez.

Qualquer turista corre o risco de ser abordado por um simpático porteño de bicicleta, que aconselha vivamente o turista a visitar o Teatro Colón e o Caminito de La Boca, ao mesmo tempo que demove aguerridamente o turista de visitar o Palácio Cor-de-Rosa e o Congresso (no se piercan con eses ladrones).

O Palácio Cor-de-Rosa é mais cor-de-rosa do lado da frente do que dos outros lados.

Há um emprego na Argentina que parece não estar em crise: polícia. Não há esquina de Buenos Aires, porta de edifício governamental ou banco onde não estejam dois ou três. Excepto na Plaza de Mayo, onde estão diariamente estacionados cerca de 100 polícias.

Todos os dias há manifestações na Plaza de Mayo.

Em todas as paredes há grafitis políticos e palavras de ordem.

As melhores alfajores são as mais rascas e não as de marca, mais caras.

Os croissants argentinos chamam-se medialunas e são tão mais pequenos quanto mais saborosos que os croissants europeus.

Não há sandes de lombo de vaca como a sandes de lomo argentina.

Não há espetada como a brochette argentina.

Há bom vinho na Patagónia (diz que uma das mais conhecidas marcas de vinho argentino é da Sogrape).

O Café Tortoni é o café mais europeu do mundo. Fica em Buenos Aires.

O cemitério da Recoleta é o cemitério mais europeu do mundo. Idem aspas. É lá que mora a Evita e manadas de turistas norte-americanos à procura da Madonna.

Uma das ruas mais coloridas de Buenos Aires chama-se Caminito. Fica em La Boca. Para lá chegar, é preciso atravessar a Chelas lá do sítio.

Em qualquer esquina se dança o tango.

Em qualquer garagem, oficina, armazém abandonado, campo desportivo ou descampado alcatroado há feiras de roupa, de arte, de velharias e de tudo o mais.

Em qualquer tasca há um quadro do Gardel, uma foto da Evita ou uma camisola do Maradona.

A Maradona, todo se perdona.

Em qualquer loja nas ruas do centro se ouve James Blunt (e se confirma que o mau gosto é a maior arma da globalização).

Num qualquer pequeno bar no Mar de la Plata tocam, por estes dias, Kevin Johansen, Joaquin Sabina e Andrés Calamaro.

Qualquer porteño fala portunhol e "brasileiro".

No átrio de um hotel em El Calafate (no sul da Patagónia, a 13 mil quilómetros de Portugal) foi avistado um rapaz indiano com uma camisola do Futebol Clube do Porto.

O aeroporto de El Calafate (no sul da Patagónia) é decerto o aeroporto mais pequeno do mundo: só tem espaço para um avião, só tem um tapete para as bagagens, só tem quatro balcões de check-in e passa temas velhos de Nick Cave como música ambiente... À volta, nada - deserto, deserto, deserto e o enorme Lago Argentina.

O duty free do aeroporto de Buenos Aires tem talho.