6.1.06

Onze horas

O homem do gás já veio. Uma hora e quarenta e um minutos depois. Pediu desculpa. Trouxe com ele uma caixa de ferramentas, uma pasta cheia de burocracia e a chuva. O prédio está mais sossegado. O cão da rua do lado já não ladra. Mal se ouvem as obras do esqueleto que vai crescendo atrás do meu quarto.

O homem do gás tirou da caixa de ferramentas apenas um medidor de carbono que levantou ao tecto nos cantos da cozinha. Dizia que estava a zeros. Parece que é bom. A mim pareceu-me desligado... Ligou o aquecimento, desligou o aquecimento, apertou umas válvulas, desapertou umas válvulas, ligou a água, desligou a água, foi à casa-de-banho, voltou para a cozinha. Afinal, está tudo bem. Mas para o ano, é preciso mudar uns tubos. Por agora, só é preciso tratar da burocracia. Demorou tanto tempo a preencher a papelada como a fazer tudo o resto.

O homem do gás já veio. E já foi. A chuva acalmou. Voltaram a ouvir-se as obras do prédio a crescer.

(Mas... que raio... o que estarão a fazer os senhores dos telefones no corredor?)