14.10.05

Poema de Ernesto Diniz

FRONTEIRA

É que são uns olhos e toda a pressa exclusa do mundo
É que são os passos e as lágrimas que se escondem
É um vestido, um apito, é aquela vontade que se guarda
No teu olho enxergo essa parte visível que invisível:
Talvez seja a mania minha de aceitar
Gente entrando a toda hora nas minhas fronteiras
A procurar estrelas caídas e umas batalhas
Que não começaram

É que existe uma parte que não enxergo e a graça
Mora nessas frestas variadas de não saber
É que existe uma parte muito além de mim e diferente
É uma aposta, um risco, um papel que se amassa
No teu olho enxergo essa parte invisível que visível:
Talvez seja a melancolia minha de exagerar
Os passos entrando a toda hora nas minhas fronteiras
A me procurar estrela e todas as batalhas
Que não cessam de começar

É que temos pouco tempo no mundo
E o muito que temos é pouco demais.

Sonhos / Cartas, de Ernesto Diniz