9.9.05

Alô alô?

Orlanda era uma mulher bonita, elegante, inteligente, divertida, com um emprego respeitável e respeitada por todos - no fundo, irresistível. Mas Orlanda tinha um grave problema. Sempre que estava ao telemóvel com alguém importante (normalmente ao volante, porque estava sempre a ir de um lado para o outro), era apanhada pela polícia... A questão é que, depois, nunca tinha dinheiro para pagar a multa e os polícias não aceitavam cartões nem a sua sedução, pelo que era regularmente presa e enfiada numa cela que já conhecia como poucas.

Felizmente, naquela cela-doce-cela fazia sempre boas amigas. Da primeira vez que foi presa, Orlanda conheceu uma camionista lésbica que se ofereceu para a levar a casa. Da segunda vez, fez amizade com uma bibliotecária novata que só desviava os olhos do Su Doku para galar timidamente Orlanda. Da terceira vez, cruzou-se com um travesti de anorak que mudava de cela de meia em meia hora, porque os guardas não sabiam bem se ele devia estar na cela dos homens ou na cela das mulheres. Da quarta vez, esteve a noite toda à conversa com uma sensual engenheira bioquímica que lhe falou dos prazeres da água e a convidou a ir beber um copo à praia, quando lhe passasse a ressaca. Da quinta vez, não conseguiu deixar de sentir pena de um transsexual sado-masoquista que passou a noite a chorar porque tinha cortado o "pífaro" ao namorado num momento de violenta paixão. Da sexta vez, sentiu-se bem com os elogios elegantes de uma taxista tarada mas bem-falante.

Hoje foi a sétima vez. E como não podia deixar de ser, Orlanda já fez uma amiga: uma toureira travesti, que lhe tem estado a contar histórias de como se fez passar por homem de barba rija para puxar o rabo a um touro ou da corrida em que o bigode postiço lhe voou das beiças quando foi encornada por um macho portentoso.

Quem disse que falar ao telemóvel a conduzir não trazia felicidade, estava enganado. Que felizes são, assim, os dias de Orlanda. E que alegres devem ser as suas festas de Natal.

PS: Orlanda tinha um sonho - gostava tanto de ser presa em Paris. Dizem que é romântico...