6.7.05

A longa pausa suicida

A lâmina frisou-se entre pele e a gola alta de lã. A pele recrudesceu, ao fio. Os olhos miravam-no como se o golpe permitisse a libertação. Ele empunhava um pequeno livro, enquanto a litania gutural permanecia evangélica. Num assombro, num momento, ela virou-se. E o gume só travou na carótida. Dois melros abandonaram o chorão em frente à casa.

Era domingo.

Soalheiras, as sombras vincaram os vértices mundanos dos prédios de subúrbio. Um cão vadio, um carro, as paredes pinchadas. A melodia triste do sangue pingava, abria leito por entre o peito, o alfazema da colónia que sobrevivera à madrugada, a gota jorrava perto do umbigo, indecisa em que margem tomar. Cairia no chão, primeiro só, depois ela mesmo chão de tantas outras, lágrimas de veias que ali fizeram lago. Adejavam bétulas, o pólen histaminava humanos de fraco respirar. Havia cirros e azul no céu. Adejavam bétulas, o pólen histaminava humanos de fraco respirar.

Havia cirros. E azul no céu.